Medicina na Gestão: o perfil profissional dos coordenadores médicos das UPAs

Além dos médicos que desempenham as responsabilidades e atividades comuns da profissão, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), administradas pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), possuem médicos que atuam em gestão. Na coordenação médica, o profissional vai além de fazer escalas de plantão. Ele é a liderança de todos os colaboradores do equipamento. O objetivo principal é fazer com que a unidade seja referência para toda a sociedade. A carência de maior controle de dados e a entrega de soluções devem fazer com que profissionais com perfil de gestor fiquem cada vez mais valorizados no mercado de trabalho.

Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a Medicina ocupa o primeiro lugar entre as 48 melhores profissões de nível superior analisadas pelo estudo. É campeã em quesitos como salário e empregabilidade, o que torna a atividade ainda mais atraente para jovens que estão prestes a iniciar a carreira profissional. A empregabilidade da área, segundo o Ipea, chega a 97%.

No caso do médico que atua como coordenador, o profissional deve sempre pensar em prol da equipe e do paciente, conforme aponta Ana Paula Farias Maia Portugal, coordenadora médica da UPA Canindezinho. “É uma jornada que exige muita dedicação. Uma das maiores responsabilidades é proporcionar um atendimento digno e de qualidade a todas as pessoas que nos procuram, além de fornecer um ambiente de trabalho seguro e acolhedor aos nossos colaboradores”.

De acordo com a médica, desde o início da carreira ela já tinha planos de exercer cargo de gestão. “Lembro que, no ato da minha admissão para ser médica do Pronto Atendimento, passei por uma entrevista e uma das perguntas foi ‘Como você se vê no futuro?’. Lembro que a minha resposta foi: ‘Espero poder fazer minha residência médica em cirurgia, ser mãe e progredir na empresa, quem sabe um dia chegar a um cargo de gestão’. E eis que, sete anos depois dessa entrevista, consegui alcançar todos os meus objetivos”, pontua.

Patrícia Miranda é coordenadora médica da UPA Conjunto Ceará e ressalta que a função vai muito além de apenas gerir a escala de plantões da equipe. “Estamos à frente do planejamento, da organização e do monitoramento dos nossos protocolos que representam as principais causas de óbitos em pacientes que procuram uma Emergência; fazemos o estímulo para a equipe médica manter um atendimento humanizado e em sintonia com as demais equipes das unidade; elaboramos relatórios técnicos de assuntos administrativos para apresentação à direção e, conforme necessidade, para demais setores; avaliamos e acompanhamos desempenho funcional dos nossos médicos; supervisionamos ações médicas para manter o atendimento conforme nossos valores, entre outras atividades”, detalha.

Ainda segundo a profissional, o médico que deseja exercer a função de coordenador deve ter organização, imparcialidade, flexibilidade, saber trabalhar em equipe, além de capacidade de mapear processos. “O coordenador deve entender a dinâmica da equipe e encontrar a melhor maneira para chegar a um resultado final de qualidade, seja num protocolo ou num atendimento comum. É preciso ter flexibilidade para saber resolver os problemas de forma rápida e ter conhecimento de cada setor. Todos devem ser ouvidos; as regras e políticas da organização devem ser seguidas. A privacidade e o respeito devem ser mantidos”, observa.

Profissionais de Medicina no Brasil
Diego Silveira, coordenador médico da UPA José Walter, reforça que o profissional precisa ter perfil acolhedor e saber ouvir e entender que tudo funciona em equipe. “O coordenador deve saber quais as necessidades de sua equipe, estar atento ao treinamento e aos feedbacks dos funcionários, além de ser firme no posicionamento para que se tenha um bom resultado. Todos os atos assistenciais são de responsabilidade do coordenador, além do gerenciamento dos gastos”, diz.

O Brasil já ultrapassa a marca de meio milhão de médicos, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2020, homens representavam 53,4% de profissionais médicos e as mulheres, 46,6%. Cinco anos antes, médicos homens somavam 57,5% do total da categoria e as médicas, 42,5% – há trinta anos, elas representavam apenas 30,8%

Além disso, o País tem hoje mais do que o dobro de médicos que tinha no início do século. Em 2000, eram 230.110 médicos. Em 2020, eles somam 502.475 profissionais. Nesse período, a relação de médico por mil habitantes também aumentou significativamente, na média nacional. Passou de 1,41 para 2,4. É o que mostra o estudo Demografia Médica no Brasil 2020, resultado de uma colaboração entre o CFM e a Universidade de São Paulo (USP).

“Organização é essencial”
Yasmin Costa hoje é coordenadora médica da UPA Autran Nunes. Sobre as responsabilidades do atual cargo, a profissional explica: “Na coordenação médica, você sempre tem que ser solícito e disponível para orientar dúvidas, estar atento aos detalhes, mediar alguns conflitos, unir a equipe e fazer ela parte do processo de crescimento e alcance das metas da unidade. Sinto que, como coordenadora médica, a organização é essencial”.

Patrícia Santana atualmente é diretora de Cuidados e Saúde das UPAs geridas pelo ISGH. Ela ingressou no Instituto por meio de processo seletivo como médica plantonista e fazia residência em Emergência na época. Santana exerceu a função de 2012 a 2015, até ser convidada a assumir o primeiro cargo de gestão como coordenadora da UPA Autran Nunes. “Uma boa liderança deve ter objetividade, mas também sensibilidade, acolhimento de ideias e desenvolvimento humano de seus liderados”, indica.

Atualmente, o Ceará possui mais de 17 mil médicos, sendo 12 mil profissionais em Fortaleza, segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec).

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